O Festival começou e minha incursão nas críticas cinematográficas também.
Os pitacos iniciais serão para o italiano "Gomorra" e o documentário brasileiro "Palavra Encantada".
O primeiro, concorrente italiano a uma indicação ao Oscar, traça um mosaico complexo de várias histórias, culminando no ponto central da crítica: a complexa organização da máfia napolitana.
O jovem diretor Matteo Garrone ("Primo Amore") combina diferentes cenários sociais e mostra como a figura do ser humano se relaciona numa teia de poder e violência. Se perdendo um pouco em algumas histórias desconexas, Garrone consegue, no entanto, criar personagens fortes com uma trilha sonora afinadíssima com a fotografia.
Apesar da temática "Poderoso Chefão", que norteou a maioria das películas sobre a máfia, o filme consegue apresentar uma realidade mais crua, com menos risca de giz que os "Corleone" e sem cair na apelação.
Inspirado no livro homônimo do escritor italiano Roberto Saviano, o filme ainda traz atuações precisas e convincentes. Vale o ingresso!
O segundo é um documentário da premiada Helena Solberg ("Vida de Menina"). O filme reúne alguns dos mais notáveis compositores brasileiros para discutir as letras das músicas e, o que é mais provocador, se elas são uma forma de poesia. Entre muitas entrevistas, a diretora lança imagens raríssimas de Chico Buarque e Ismael Silva.
Com muita sensibilidade, Solberg não faz nenhum épico, no entanto, tece com delicadeza as complexidades poéticas dos nossos grandes letristas. Ajudada por uma produção de imagens fantástica, o doc não decepciona o espectador no quesito emoção.
Diante da prospecção linguística de tantos gênios, fica até difícil escrever sobre, vão ao cinema e apreciem o que nossa cultura tem de melhor.
Em breve, mais resenhas chorumescas do Festival do Rio.
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