domingo, 28 de setembro de 2008

"Gomorra" e "Palavra Encantada"

Por Gabriel Mattos

O Festival começou e minha incursão nas críticas cinematográficas também.

Os pitacos iniciais serão para o italiano "Gomorra" e o documentário brasileiro "Palavra Encantada".

O primeiro, concorrente italiano a uma indicação ao Oscar, traça um mosaico complexo de várias histórias, culminando no ponto central da crítica: a complexa organização da máfia napolitana.

O jovem diretor Matteo Garrone ("Primo Amore") combina diferentes cenários sociais e mostra como a figura do ser humano se relaciona numa teia de poder e violência. Se perdendo um pouco em algumas histórias desconexas, Garrone consegue, no entanto, criar personagens fortes com uma trilha sonora afinadíssima com a fotografia.

Apesar da temática "Poderoso Chefão", que norteou a maioria das películas sobre a máfia, o filme consegue apresentar uma realidade mais crua, com menos risca de giz que os "Corleone" e sem cair na apelação.

Inspirado no livro homônimo do escritor italiano Roberto Saviano, o filme ainda traz atuações precisas e convincentes. Vale o ingresso!




O segundo é um documentário da premiada Helena Solberg ("Vida de Menina"). O filme reúne alguns dos mais notáveis compositores brasileiros para discutir as letras das músicas e, o que é mais provocador, se elas são uma forma de poesia. Entre muitas entrevistas, a diretora lança imagens raríssimas de Chico Buarque e Ismael Silva.

Com muita sensibilidade, Solberg não faz nenhum épico, no entanto, tece com delicadeza as complexidades poéticas dos nossos grandes letristas. Ajudada por uma produção de imagens fantástica, o doc não decepciona o espectador no quesito emoção.

Diante da prospecção linguística de tantos gênios, fica até difícil escrever sobre, vão ao cinema e apreciem o que nossa cultura tem de melhor.

Em breve, mais resenhas chorumescas do Festival do Rio.

sábado, 27 de setembro de 2008

Crítica Musical O CHORUME: Dig Out Your Soul, novo álbum do Oasis


Como uma onda, Oasis tomou de assalto a cena musical pós-Nirvana, emplacando hits e influenciando bandas. Após o auge e com a idade, pareceu perder sua identidade juvenil "sex, drugs and rock 'n roll". Com Don't Believe The Truth (2005), Noel Gallagher finalmente viu seus companheiros criarem canções de bom nível, em especial seu irmão, Liam. Pareciam finalmente ter encontrado um novo caminho.

E é isto que o álbum Dig Out Your Soul, 7º disco de estúdio, veio para demonstrar. Se não é a simplicidade raivosa de rapazes da classe trabalhadora, é, definitivamente, um conjunto maduro que tem como foco a música e suas fronteiras criativas. Não, Noel não parou de roubar riffs, trechos de melodias e idéias de outras bandas. Mas agora, soa diferente. De Jim Morrison a Marilyn Manson, passando pelos Beatles (é claro), tem de tudo neste CD.

Não, não é um Definetly Maybe ou um (What's the Story) Morning Glory? não. Mas, com certeza, é a produção da banda que tem mais o que dizer há muito tempo. Uma das maiores bandas de rock desde os anos 80 em sua maturidade e consolidação musical. Um quarentão bem resolvido, que não vai dominar o mundo, mas sabe o que quer.

Nota do álbum: 8,5

Dig Out Your Soul faixa-a-faixa (clique no nome da música para ouvi-la via youtube)

1- Bag It Up - Abre o álbum chutando a porta. Marcada pela bateria forte, lembra muito o espírito dos primeiros discos, porém, mais psicodélica e pesada. Beatles na fase "psychodelia" com distorção e um baterista de Hard Rock dos anos 80. (Nota 9)

2- The Turning - Acid Jazz de baixo e piano no começo, beirando o Lounge soft eletrônico. Daí vem o refrão estourando a caixa de som com um riff estranho e forte e uma melodia marcante. (Nota 9)

3- Waiting For The Rapture - Five to One, do The Doors, inegavelmente ali. Muda-se um pouco a melodia, fica-se apaixonado e questionador durante uma trip e pronto! Um bluesman doidão ouvindo Jim Morrison e tocando com Jack White (White Stripes). (Nota 7,5)

4- The Shock of The Lightning - Como se gritar "estou de volta, porra!" em uma música? Com muita distorção e bateria "espancando", uma letra inspirada e louca em uma melodia diferente, mas grudenta. Oasis mostrando que ainda sabe como se faz um "primeiro single" digno da banda. (Nota 8)

5- I'm Outta Time - Quem diria, a música mais melódica foi feita pelo Liam! Receita simples: melodia e letra bem casadas com uma batida pop rock, como titio Lennon ensinou. Aliás, o cérebro dos Beatles não tá só na entrevista que aparece no fim da música. Melhor canção composta pelo vocalista até hoje. (Nota 9)

6- (Get Of Your) High Horse Lady - Dois acordes, um clima meio velho-oeste, meio woodstock. Pegue uma melodia de blues, encaixe em Come Togheter (Beatles) e toque com o Velvet Underground. (Nota 7)

7- Falling Down - Quase eletrônico, mesmo usando elementos de puro Rock. Batida irresistível e melodia que se encaixa perfeitamente na voz do guitarrista, mais suave que a de seu irmão. Qualquer semelhança com "Tomorrow Never Knows", dos Beatles, que é "mãe" da música eletrônica, não será coincidência. (Nota 8)

8- To Be Where There's Life - Nesta música hipnótica, o baixo manda, com muito Groove! Ainda tem uma cítara rolando, clima George Harrison com Motown. Mas tem algo estranho...Ih, cadê as guitarras??? E não é que ficou legal? Bola dentro do guitarrista Gem Archer. (Nota 8,5)

9- Ain't Got Nothing - Liam compondo como Liam. Refrão simples, uma outra estrofe, repete-se tudo algumas vezes e pronto! O ar punk desta é, supostamente, resposta a uma acusação de agressão que caiu sob Liam em seus últimos suspiros de rebeldia. Agora, ele tá mais velho, maduro, pai de família...(Nota 6)

10- The Nature of Reality - Essa, do baixista Andy Bell, é uma verdadeira mistureba. Seu começo lembra Helter Skelter, dos Beatles. Mas logo o clima dark e um hard rock bruto aparecem, lembrando Marilyn Manson. A guitarra ataca de forma diferente, mas bem interessante, cheia de efeitos. Melodicamente está conectada ao espírito psicodélico do álbum. (Nota 7,5)

11- Soldier On - Outra que mostra a evolução de Liam Gallagher como compositor. Tem John Lennon sim. Mas sua levada puxa algo dos bluesmen ou R'n B, acompanhados por uma percussão marcial bem marcada, num loop hipnótico. Seu espírito é perfeito para fechar o álbum. "Soldier On" (agüenta firme, siga em frente), repetindo a expressão como um mantra até o fim, tal qual um épico do Velvet Underground. (Nota 7,5)

"Se gostar, compre. Se não gostar, não compre. É assim", diria o vocalista Liam Gallagher. E é isso: um álbum que não é para esvaziar prateleiras, mas encher ouvidos.

OBS: Como parte da interessante estratégia de lançamento do álbum (sai dia 06/10, mas já vazou), um grupo de artistas de rua de Nova York teve acesso a três faixas do novo álbum e pode executar suas versões para estas músicas espalhados pela cidade. Iniciativa sensacional!

(Get of your) High Horse Lady - Next Tribe

The Turning (Michael Shurman - grupo com Brasileiros tocando!)

Bag It Up - Dagmar

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Festival do Rio 2008





Começa nesta sexta o Festival do Rio, filmes para dar e vender durante 15 dias (25 set à 10 out). Encaixando um horário aqui outro ali, consegui me organizar para 20 filmes. Pouco, para a gama de 350, que variam entra Mostras Gays, Panorama Mundial, Filmes Trash, Clássicos e Nacionais.

Passarão pelas telas do Rio, Irmãos Cohen, Copolla, DePalma, Irmãos Taviani, Derer Jarman, Pablo Trapero, Woody Allen, Eric Rohmer, De Sicca, Felini e muito, mas muito mesmo, mais!!!

Vale lembrar que as vendas antecipadas começaram ontem (22/09) no Espaço Unibanco (Voluntários da Pátria). Os ingressos custam em média R$ 13,00, tem também algumas promoções no Odeon e no Palácio, além de passaportes de 20 e 50 filmes (130 e 250 reais respectivamente).

Para garantir o meu, fui lá ontem mesmo. Consegui comprar 15 filmes, os outros, como sempre, ainda não foram liberados.

Sem maiores delongas vamos ao que interessa, nossas singelas sugestões:

Começando pelos clássicos, quatro mostras são imperdíveis: Musas italianas, Derek Jarman, Irmãos Taviani e Arturo Ripstein.

Para quem curte é um prato cheio. “Julieta dos Espíritos”, Felini, é uma ótima pedida. Estrelado pela musa Giulieta Masina (“Noites de Cabíria”), o filme traça um paralelo entre real e imaginário tendo como pano de fundo, brigas conjugais.

Ainda excelentes sugestões são: “O Castelo da Pureza” do polêmico diretor mexicano Arturo Ripstein e “Allonsafran” dos Irmãos Tavini, diretores do consagrado “Pai, Patrão”, vencedor de Cannes em 1977.

Passando para os documentários, temos destaques tanto por aqui quanto para os gringos.“Jards Macalé, um morcego na porta principal”, de Marcos Abujamra e João Pimentel, é imperdível. Além dele, “Hipotecando os Eua” de Patrick Readon e “Procedimento Operacional Padrão”, de Errol Morris.

Pulando para a Premiere Nacional, temos uma excelente leva de estréias na direção. Selton Mello, com “Feliz Natal” e Matheus Nacthergale, com “Festa da Menina Morta”, são os principais. Temos ainda mestres da sétima arte brazuca, Domingos de Oliveira mostra “Juventude” e Julio Bressane, “A Erva do Rato”.

As estréias mais esperadas ficam por conta de Woody Allen, “Vicky Cristina Barcelona”, Brian De Palma, “Guerra sem Cortes”, Charlie Kaufman com “Sinédoque, Nova York”, os irmãos Cohen, “Queime depois de Ler” e Andrej Wajda com “Katyn”

Para fechar, a Festival vai trazer nomes consagrados do cinema latino. Pablo Trapero traz La Leonera, com Rodrigo Santoro no elenco, e Lucrecia Martins mostra “A Mulher sem Cabeça”. Outra boa pedida é “Liverpool”, de Lisandro Alonso.

Poderia sugerir ainda muitos e muitos filmes, mas fico por aqui. Neste site (http://www.moviemobz.com/browse/festivaldorio2008#) pode-se conferir a programação completa do Festival.

Durante a programação darei mais pitacos e opiniões sobre as películas vistas.

Desliguem seus celulares e tenham todos um bom filme!!!!!

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Mainstream


Foto: Linda jovem exibe camisa de protesto criativa


Por Alexandre Vasconcellos, pseudo-intelectual

Antes de mais nada, cabe uma definição:

Do inglês Main+Stream= Principal+canal, tendência. Numa tradução da expressão, seria algo como tendência em voga, atual.

Pois, vejamos.

Ando convivendo muito com pessoas antenadas. Sabe, daquelas realmente in, que entendem pacas de filmes B chilenos dos anos 40, música neo-folk-psicodélica-hindu de bandas do subúrbio de São Paulo ou do interior de Pernambuco. Ácidos críticos da cultura Pop e porta-estandartes da contracultura de ontem e de hoje, auto-intitulados como fiéis herdeiros desta importante incumbência: subverter o establishment.

Qual é o representante maior desta corrente de fluência sócio-cultural? Qual é o alvo? Qual porta deve ser batida até que caia? Estas perguntas são sempre respondidas com palavras que circundam o universo de uma outra, esta sim controversa e significante: Mainstream. Ela tem várias caras, várias roupagens, mas é só ela. É a Mídia. Opinião Pública. É a Globo (haha). É a Jovem Pan (hahahaha). De fato, é e não é tudo isso.

Entende-se como Mainstream, para efeito do debate, qualquer manifestação artística feita primordialmente para ser vendida para um bocado de gente, devidamente alocada em um canal de consumo, direcionada a determinado público.

Não há o que discordar, quando se diz que o grosso do grosso do que é veiculado pelos grandes mídias é puramente comercial. Fato. Embasado numa linguagem fácil, palatável, justamente para atingir um grande número de pessoas e, assim, obter resultados diretos e indiretos em escala, volume. É a economia da cultura, inexorável processo dentro de um universo capitalista.

O que me intriga nesta análise é o posicionamento “à margem”. O marginalismo, digamos, do “antenados way of life” é curioso. O discurso em voga neste segmento (que por si só é um grande e heterogêneo universo) é o de sê-lo para preservar sua integridade artística. A busca pelo santo graal da tal liberdade criativa, ser dono do próprio nariz, caneta, pincel, roteiro e que tais. Lutar com recursos limitados para levar sua arte a um público que possa digeri-la. Arte em primeiro lugar. Louvável! Clap Clap Clap!

Tudo muito bonito, muito legal. Mas, pegando-se uma lupa e chegando bem perto da coisa, tudo vira um grande Monet. Façamos um exercício: comparemos o quadro da contracultura dos anos 60 e 70 ao cenário atual.

Aspecto 1 – Difusão: Muitos dos movimentos anti-establishment surgiram em agremiações e grupos de pessoas, de diferentes classes, e se difundiram no boca-a-boca, em ações panfletárias que põem no chinelo muitas estratégias de marketing viral correntes. Logo, milhares de pessoas estavam mobilizadas.

Hoje o cara monta MySpace, blog, site, Orkut, Facebook, participa de fóruns de internet, além, é claro, da ação panfletária e networking social. A coisa toda é mais abrangente, porém, nasce de esforços individuais, o que é curioso. As ferramentas estão aí, acessíveis a boa parcela da população, porém, o poder de mobilização ainda é pequeno. Diversas tribos se formam para intercâmbio entre si e com outras que compartilhem de preceitos associáveis. Pode-se argumentar de que não há um grande movimento, como antes, mas sim, toda uma cena crescente, emergente, fervilhante.

Caímos então no aspecto 2 – Os Cenários: Lá atrás, impulsionados pela existência de conflitos explícitos entre governos, população e agentes econômicos, surgiam correntes ideológicas bem definidas. Estas faziam com que facilmente pudesse se envolver um grande número de pessoas em torno de qualquer coisa que contivesse em sua pauta argumentos contestatórios. Movimento Hippie, Tropicália, Pop Art e mais alguns tomaram grande proporção amparados por questões externas à Arte em si, fazendo desta um meio para uma finalidade.

Os de cá, agora, encontram-se numa encruzilhada semântica. Se dizem contestadores, provocadores, a crème de la crème, reserva moral e artística do mundo. Princípios sólidos e reputação ilibada. Porém, falam, na sua imensa maioria, para seus próprios nichos. Dizem querer propor uma nova linguagem, mas só conseguem falar para os mesmos 13, que trazem sempre mais um, mas nunca mais 7.

Quando muito, estes bravos ganham alguma repercussão no “mercado”, aparecendo em magazines on-line e sites especializados, com trabalhos expostos em páginas patrocinadas pelo Google e Lojas Americanas. Daí, se porventura chegam ao chamado Mainstream, são taxados como vendidos e são enxotados da sua tribo de origem, caindo nos braços amargos do povão para serem julgados pelo sucesso. Nascem então as frases “eu gostava de como era antes”, “sou fã deles desde o início, mas agora tocam na novela, daí, fudeu!” e semelhantes.

Chegamos ao aspecto final, 3- Mainstream e os mercados: O dilema de Tostines aqui se faz presente em uma poética simbologia: O artista está no mainstream porque agrada e vende ou ele agrada e vende porque se adequou ao mainstream?

Cara, como em tudo, inclusive neste texto que embebeda vossas pupilas, as generalizações são perigosas. Nem todo mundo lá é bom e nem todo mundo cá é ruim. Tem muita bosta independente e muita coisa boa com contrato milionário. E gosto não se discute, é óbvio, mas esse argumento inviabiliza qualquer debate (hehe).

Usando a comparação de épocas novamente, um tanto quanto cruel e díspar, pensemos: quem é mais contestador, revolucionário, qualificado, independente: Cansei de Ser Sexy ou Chico Buarque? Gerald Thomas ou Zé Celso (ou Antunes Filho, para os que sabem que defendo o Zé)? David Lynch ou Stanley Kubrick? Fernando Meirelles ou Joaquim Pedro de Andrade?

Falei essa porra toda para chegar neste ponto: porque os pretensos intelectuais da atualidade são tão ostensivos no combate ao Mainstream, ao establishment? Não se pode trazer a qualidade, a mudança e a inovação para a linguagem comercial? O contexto de hipermídia atual potencializa ou neutraliza a mudança?

Será a cena indie um posicionamento à parte, marginal ou será que esta já foi engolida pela mão invisível do mercado? Teria sido ela devidamente segmentada, etiquetada e alocada em canais de consumo bem claros, onde toda a dimensão comportamental é imposta pelos micro-nichos, agrupados em um macro cenário bem explorado economicamente?

O que é, hoje, o Mainstream e o que é hoje a contracultura?

Os independentes são a reserva moral da produção intelectual e cultural?

Há espaço para qualidade nos grandes veículos, mercadores a varejo de produtos para consumo fast food?

Seriam os antenados mais uma bandeja na grande gôndola do Supermercado?

Será que isso é prejudicial à contracultura?

Com uma internet em mudança, para bem e para mal, a produção cultural não se encontra em uma fase de necessidade de reinvenção, por necessidade mercadológica e também artística?

É possível ser Cool e ser Pop ao mesmo tempo, com qualidade?

Qualitativo e quantitativo rimam?


Parabéns aos que leram essa porra até aqui! Muito lixo para vocês!

Saudações Chorumélicas!

OBS 1: O maior fenômeno indie do Brasil chama-se Banda Calypso. E tenho dito! Não adianta virar o rosto, não! Eu sei o que se passa por trás desses óculos retangulares...

OBS 2: Chico, Gil, Caetano, Vinícius, Baden Powel, Tom, Beatles, Stones, Lou Reed, The Who, Cazuza, The Smiths, The Clash, Sex Pistols, Ramones, Tom Zé, Frank Zappa e muitos outros. Tudo Pop.

OBS 3: Mais um artigo com imensa chupação do Wikipedia. O restante é de filhos do Google.

OBS 4: Recorde de utilização de itálico em um blog brasileiro.

OBS 5: Se eu lançar uma banda, um filme, um programa de TV, um blog, um jornal, uma pipa ou um peido, quero ser mainstream, por favor.

Grato.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Crítica Álbum 7 “Vezes”, de O Rappa

O sétimo álbum de estúdio da banda carioca O Rappa, “7 vezes”, traz um pouco do de sempre, misturado com um tanto do recente e uma boa pitada de algo novo.

Do Rappa tradicional, vem a forte crítica social nas letras e a mistura de ritmos, passeando entre as vertentes do Reggae, do Rock.

A semelhança com os últimos trabalhos, em especial com “O Silêncio Q Precede o Esporro (2003)” está na clara referência a bandas que trabalham bem com bases eletrônicas derivadas do ska e do dub, como Asian Dub Foundation, banda gringa que, inclusive, tem relação muito próxima à banda carioca.

Ah, e a troca definitiva da linguagem direta e carnívora dos hinos da era pré-Lado A Lado B para a sutileza ácida dos relatos poéticos do cotidiano, como já visto em “O Silêncio”.

Do novo (digamos, mais explícito), uma maior utilização das guitarras em solinhos e incrementos, sem, no entanto, poluir demais o som, mas utilizando efeitos de distorção em algumas músicas, coisa não tão usual na banda.

E outra coisa boa: em algumas faixas, nota-se uma aproximação muito grande do som da banda com a levada do “Nação Zumbi”. Na seqüência “Meu Santo Tá Cansado”, “Verdade de Feirante” e “Hóstia”, dá até para se imaginar Du Peixe fazendo os vocais (em especial na “Verdade”).

Nada revolucionário, nada novo e nem mesmo nada do “Velho Rappa”, chata bandeira levantada por todo fã saudosista que toda grande banda de longa duração carrega. Se tivesse que definir “7 Vezes”, diria que é uma boa evolução de “O Silêncio”, até com algum resgate das raízes, mas salpicado novos temperos. Melhor que seu antecessor. Muito bom, sem ser antológico. Ótimo lançamento! Nota 8,5.

Faixa-a-faixa rapidinho!

Farei uma rápida livre associação de idéias para definir cada uma das músicas do álbum. Por favor, leiam com humor. É mais uma provocação. Depreciem com moderação!
1- Meu Santo Ta Cansado – Rappa engatando a primeira, com distorção longínqua e boas citações de poemas e músicas famosas

2- Verdade de Feirante – O que ta rolando na vitrola? Quem foi que colocou Nação Zumbi? Du Peixe com real variância vocal.

3- Hóstia – Letra bem Rappa. Mas o instrumental é o que aconteceria se você colocasse num estúdio Incubus, Beck e U2 depois de ouvirem Hendrix. California Love!

4- Meu Mundo é o Barro – Rappa em seu momento “lembrem-se: isso tudo começou com Reggae, mas eu já sei mexer no ProTools e fazer efeitos mil!”

5- Farpa Cortante – Sanfona Gaúcha + Asian Dub Foundation + Cypress Hill, com um refrão marcante. E mais efeitos.

6- Em Busca do Porrão – Posso me disfarçar de sobra mais soft de “Lado A Lado B” que ninguém repara.

7- 7 Vezes – Copie e cole o comentário da faixa 2 e se pergunte: o que é esse refrão?

8- Monstro Invisível – Bota Motown na cozinha, Los Hermanos na base, Pepeu Gomes solando e o próprio Falcão cantando. Ótima receita, pronta para servir!

9- Maria – Um Dub-Hendrix sombrio e crítico. Curto e grosso. No fim, traga uns caras de uma escola de samba pra dar uma moral.

10- Súplica Cearense - Música regional nordestina em base de Regaee...vocês estiveram em São Luís? No mínimo, têm ouvido Tribo de Jah.

11- Fininho da Vida - Baixo funkeado, guitarra levemente distorcida e acompanhando. Letra viajante. É o Rappa!

12- Documento - Imagine-se entrando em um centro espírita. No fundo, alguém ouve Led Zeppelin ou Neil Young, mas na pista um sambista e um rapper tentam se entender. É por aí.

13- Respeito Pela Mais Bela – Manu Chao, de frente para uma mesa de mixagem e um vinil com Samples estranhos, tentando cantar como um repentista urbano.

14- Vários Holofotes – Dava para ser samba-funk, mas decidi quebrar o ritmo com um quase-reggae, brincar com distorção e abusar da minha potência vocal.

Enfim...divirtam-se!!!!!