sábado, 22 de novembro de 2008

Woody Allen em dose dupla.

Por Leonardo Vicente

Em cartaz nos cinemas do Rio, Vicky Cristina Barcelona veio para confirmar a boa fase do diretor nova-iorquino Woody Allen. O filme traz novamente em um dos papéis principais a atriz Scarlet Johansson que já havia contracenado nos filmes de Allen em Scoop – o grande furo (2006) e Match Point (2005). Além bela atuação de Johansson como Cristina, uma jovem que almeja descobrir sua vocação para as artes e acredita no amor tempestuoso, a atuação de Penélope Cruz (Volver), como Maria Elena, confirma o talento que a atriz não demonstrava há tempos devido a papéis não muito marcantes.

Novamente, Allen não escolheu a cidade de Nova Iorque para ser o cenário principal. O filme se passa nas cidades de Barcelona e Oviedo, porém, a cidade norte-americana berço do diretor não poderia ficar de fora, algumas cenas também foram gravadas lá.

Em Vicky Cristina e Barcelona, Woody Allen consegue abordar, com a sutileza que vem se especializando, vários temas interessantes como a paixão e suas variações. O caso da personagem Vicky (Rebecca Hall) é um exemplo disso: Segura, Vicky é o tipo de pessoa que sempre planejou com pormenores toda a sua vida, mas durante a viagem e devido a alguns acontecimentos começa a questionar se é essa realmente a vida que gostaria de levar . O filme também quebra preconceitos desrotulando o romance com o triângulo amoroso entre as personagens Cristina, Maria Elena e Juan Antonio (Javier Barden). A cena mais polêmica é a do beijo entre as atrizes Penélope Cruz e Scarlet Johansson.

Com o olhar do meio artístico da burguesia que Allen conhece muito bem, a ótima escolha da trilha sonora, as grandes atuações de todos os atores (o que é já é de se esperar nos filmes de Woody Allen) e os diversos temas bem abordados, Vicky Cristina Barcelona torna-se um filme imperdível para os amantes da sétima arte, fazendo valer à pena cada centavo do ingresso e da pipoca.

Para quem quer saber mais, assista o trailer aqui:


O Chorume recomenda:

Outro filme imperdível de Woody Allen para os cinéfilos de plantão é o filme que antecede ao que se encontra de cartaz, O suspense dramático O Sonho de Cassandra (2007) surpreende novamente por não levar o toque cômico do diretor e por ser o terceiro filme seguido que não é rodado em Nova Iorque. A estória se constrói toda em Londres.

No filme, os atores Ewan McGregor (Trainspoting) e Colin Farrel (Por um fio) interpretam dois irmãos com ambições diferentes, porém com laços familiares muito fortes, que se vêem diante de uma proposta do tio deles, interpretado por Tom Wikinson, que se torna quase irrecusável diante das situações que se encontram – um viciado em jogo e outro com ambições maiores do que gerenciar o antigo restaurante da família.

Em O Sonho de Cassandra, Woody Allen “brinca” com o caráter de cada personagem e os envolve em uma trama que, muito interessante, leva o suspense ao extremo. Com belas atuações, talvez o único problema do filme é parecer que acaba de uma hora pra outra com um final talvez não muito bem trabalhado.

Porém, por ser um ótimo suspense dramático e com uma ótima estória, O Chorume recomenda-o àqueles que gostam do trabalho de Allen e de filmes do gênero.

Clique aqui para assistir o trailer do filme.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

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foto: blog Máquina de Escrever, do G1

Por Alexandre Vasconcellos

Tem coisas na imprensa que dão dó. Destas, aliás, estão por demais cheios os jornais, sites, blogs noticiosos, revistas, etc. Mas quando há o que se elogiar, elogiemos também!

Um interessante exercício de reflexão sobre cultura pode ser feito a partir de uma simples nota sobre uma conferência literária, mais especificamente, no Fórum das Letras de Ouro Preto (Flop – que, em parceria com o Fórum de Parati, Flip, formam a dupla de quase-onomatopéias mais propensas a trocadilhos da cena cultural-intelectual tupiniquim). A reportagem, em si, é muito boa.

Pois bem. Debatiam, na abertura do Flop, o músico Lobão e o multifacetado Nélson Motta. Do tradicionalmente polêmico Lobão, veio o que se espera: polêmica. Do geralmente apaziguador e tranqüilo Motta, veio o inesperado: polêmica. Enfim, prato cheio para a imprensa.

Segue um trecho da matéria do jornalista e escritor Luciano Trigo, enviado do blog “Máquina de Escrever”, do G1, ao evento:

“Eu acho o Chico Buarque um horror, um equívoco, um chato, um parnasiano. O Olavo Bilac é muito mais moderno que ele. Ele faz uma música anêmica, sem energia, sem vivacidade, parece que precisa tomar soro. A Bossa Nova é a mesma coisa, uma música easy listening, que toca em loja de departamento quando a gente vai comprar uma meia”.

Precisa falar que esta frase é do Lobão?

Você discorda da argumentação do Lobão por ter sido feita por ele? “Quem é ele para falar de Bossa Nova”, alguns dizem.

E esta?

“Tirando Tom, Vinicius e João Gilberto, tudo que veio depois na Bossa Nova foi diluição. A gente sabe que Roberto Menescal, Carlos Lyra etc são músicos de segundo time”.

Proferida por Nelson Motta, ativista do Tropicalismo antropofágico do fim dos anos 60e de tudo que houve de lá para cá. Para alguns, um grande estudioso da cultura brasileira. Para outros, um ufanista.

Qual dos dois está mais certo, pergunto aos colegas chorumélicos? Com qual você concorda?

Você está julgando o que? O que disse o Lobão e o Nelsinho, ou quem o disse?

Muito se fala (inclusive por mim) do nível da produção jornalística e cultural contemporânea. È raso, é pretensioso, porém, pouco ambicioso. Ou é excessivamente saudosista ou é uma roupagem nova de velhos conceitos. Falta o novo. Fácil ouvir isso sobre a arte dos dias de hoje. Já sobre a imprensa, tacar pedras é moleza (e principal mote deste blog). Tem a sensacionalista. Tem a panfletária, partidária, enviesada. Tem a pobre mesmo, sem recursos lingüísticos e técnicos, preguiçosa.

Mas, voltando a matéria da Flop, outro detalhe me salta aos olhos. Como exercício, caro leitor desta lixeira, leia os comentários deste post. Um show de horror! Nem me atenho a resenhar os erros de português, que, em internet, são corriqueiros. Mas a capacidade argumentativa das pessoas é lastimável! E o que mais me assusta (porém, não surpreende): a impressão de que vivemos num mundo carente de cabeças pensantes! Sem falar na falta de respeito pela opinião alheia, seja esta de um artista ou de um outro “comentarista” no post.

Quem é o Lobão ou o Nelsinho para falar da Bossa? E quem é você para falar do Lobão ou do Nelson?

Argumentos como estes iniciam brigas, validam mordaças e ditaduras. As institucionais e as culturais. As explícitas e as cotidianas. As que nossos pais viveram e a que vivemos hoje.

É este o público para o qual a arte e a informação são produzidas? Devemos repensar, então, a qualidade de quem? A arte e o artista são reflexos da sociedade? E a sociedade, é reflexo de quem?


Pensem. O mundo precisa.