quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Duas breves resenhas; Duas grandes produções

Por Raphael Dias Nunes

O CHORUME - CINEMA

NA NATUREZA SELVAGEM (Into the Wild)
Com: Emile Hirsch / Direção e Roteiro: Sean Penn.
EUA/ 2007, Drama, 140 min.

Sean Penn iniciou sua carreira de diretor em grande estilo. O filme se baseia no homem que busca a redenção, se rebela definitivamente contra o sistema político vigente, que começa pela família.
Essa é a história de Christopher McCandless, que depois de se formar, cai na estrada sem rumo. Uma espécie de auto-afirmação, um surto contra os padrões de vida norte-americanos, em um momento de transição de sua vida, no início da década de 90. McCandless abandona sua família, doa e queima todas as suas economias, muda de nome e mergulha de cabeça no desconhecido. Uma espécie de sonho de liberdade com um quê de rebeldia, tudo isso de uma forma impressionantemente convicta.

O roteiro não segue uma ordem cronológica exata. O filme se inicia no começo do fim de sua jornada, quando ele chega ao Alasca, buscando logo no auge de suas aspirações de se isolar cada vez mais. Com uma trilha sonora maravilhosa, orquestrada por Eddie Vedder, são mostradas as transformações tanto filosóficas quanto físicas do jovem - que acabara de entrar em sua segunda década de vida. Tudo isso em perfeita sintonia com o som. O personagem cita diversos autores literários, em especial os franceses, mas o espírito beatnik é também marcante pelo estilo de vida adotado na estrada, com caronas, música e a ideologia não idealizada de sempre ir em frente.

No Alasca, em contato mais íntimo possível da vida selvagem, o personagem é consumido cada vez mais por essa dura vida desconhecida até então. Árduas lições são absorvidas por ele, que em dado momento grava em seu ônibus-abrigo (o Magic Bus) "Hapiness is only real when is shared". A cadência dos acontecimentos vão comovendo o espectador aos poucos.

Além das frases marcantes e personagens sensacionais no caminho do aventureiro, um surpreendente final coroa esta grande e bela produção. Vale a sua audiência!


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EDU, CORAÇÃO DE OURO
Com: Paulo José e Leila Diniz/ Direção: Domingos Oliveira.
Brasil/ 1968. Comédia, 85min, P&B

Um filme onde a grande ALEGRIA da vida é celebrada
a todo INSTANTE que se passa
seja na MELANCOLIA extrema
no porre e na FARRA com os amigos
ou no não realizado e frustrante MATRIMÔNIO cultural
Enfim, uma CRÔNICA de um carioca LÍRICO-OBSCENO.

Em um longa de brilhante direção, Domingos de Oliveira dá uma aula de como se fazer um bom filme usando poucos recursos. Com um texto poeticamente formidável e tiradas brilhantes dos personagens, a tônica desta obra é o homem solteiro contemporâneo, que busca formas de ser feliz independente da instituição "casamento", mas que no fundo gostaria de ter um. O homem solitário, próximo de chegar aos 30, reflexivo pós-traumas amorosos. O homem inquieto, insatisfeito, intenso, mas que muitas vezes nem sabe direito o que realmente busca.

Além disso, é redesenhado o perfil do carioca contemporâneo: O cara curioso, incansável azarador eterno, que se apaixona a todo instante por todas as formas da beleza de ser da mulher. Os efeitos inovadores de microfonagem mostram a malandragem do protagonista (Edu) que usa uma oratória sincera e interminável para se esquivar de assuntos indesejados. Um ser serelepe, popular, falador, fanfarrão, palhaço e inquieto pelo efeito que as mulheres fazem nele.

Com uma também incrível direção de fotografia, principalmente nos enquadramentos, belíssimas imagens do Rio antigo se misturam com constantes reverências às diversas artes: A música de Noel Rosa e Carmem Miranda; ao metacinema (Singing in the Rain/ Deus e o Diabo na terra do Sol), ao desenho, à fotografia, ao jornalismo e também à poesia.

Algumas grandes frases citadas:
- "Esse tempo de ócio, eu prezo-o nu"
- "Manter a palavra e o compromisso é extremamente difícil. Igualmente difícil é fingir que elas não existem
- "Jornalismo não busca coisas boas e sim as ruins"

No fim, um interessante contraste entre o fundo do poço e a alegria extrema se chocam, deixando as conclusões finais e críticas por conta do espectador. Em suma, um filme curto e dinâmico, que não cansa em momento algum, apesar de ser em P&B.
Simplesmente maravilhoso.

Saudações Chorumélicas!

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Pílulas Culturais

Por Alexandre Vasconcellos


Alex Turner, vocalista do Arctic Monkeys, durante show retratado em DVD

Arctic Monkeys At The Apollo

Sim, o Festival do Rio acabou. Mas as novidades nas telas de cinema, não. Em interessante iniciativa de marketing, a banda inglesa Arctic Monkeys fez a première de seu novo DVD, “Arctic Monkeys At The Apollo”, em exibições simultâneas em salas de cinema de cinco países: Inglaterra, Luxemburgo, Espanha, Bélgica e...Brasil! Mais uma prova da importância tupiniquim no cenário internacional da indústria fonográfica.

No Brasil, o show de encerramento da última turnê da banda, realizado em Manchester (ING), no místico The Apollo, foi exibido nesta terça-feira, no tradicional Cine Odeon. Como era de se esperar, uma boa quantidade de fãs e apreciadores da banda compareceu, assim como a reportagem de O CHORUME.

Como DVD, este lançamento trará o que se espera da banda inglesa: um rock agitado, bem tocado e contagiante. Os Arctic Monkeys estouraram em 2006, após intensa divulgação boca-a-boca em sites de relacionamento e compartilhamento de músicas, tornando-se uma febre na Inglaterra e sucesso internacional. Seu primeiro álbum, "Whatever People Say I Am, That's What I'm Not", tornou-se o álbum de estréia mais vendido na história, batendo o "Definetly Maybe", dos também britânicos do Oasis, de 1994.

Sobre esta obra, infelizmente, ficou faltando uma maior captação do público no show, com uma imagem demasiadamente centrada na banda e poucas inserções sonoras da platéia, o que deixou o DVD “menos quente” do que se esperaria.

A filmagem em si dá a entender que haverá logo uma versão 3D em exibição nos cinemas, quando o DVD cairá no circuito comercial, em novembro.

Mas o evento em si, apesar de conceitualmente interessante, acabou sendo um tanto arrastado. Como não havia uma ambientação da sala de cinema para dar um clima de show e o som da casa não estava tão alto, a exibição acabou perdendo força. Mas foi um bom programa.

Como evento, nota 6 para execução e 10 para a idéia.

Como DVD, nota 8.



“A Vida Sexual da Mulher Feia”, TAJES, Claudia - Ed. Agir, 2005

A Vida Sexual da Mulher Feia

Barangas, não se ofendam com o título. Jamais a equipe CHORUME cometeria a indelicadeza de indicar uma leitura ofensiva a quem quer que seja. E “A Vida Sexual da Mulher Feia” é, sem dúvida, uma ótima recomendação!

Este livro, da redatora publicitária Claudia Tajes, traz as aventuras (ou melhor, desventuras) de Jucianara, que como ela mesma se descreve, “os pais de uma menina recém-nascida não podem imaginar que um dia ela se transformará em uma mulher feia. Mas talvez seguindo algum instinto, eles dificilmente darão à filha um nome bonito”.

Em tom desconcertantemente tragicômico, a autora fala da primeira paixão de infância, primeiro beijo, primeira vez, casos amorosos diversos, tudo com a vida familiar e profissional de Jucianara servindo de pano de fundo.

Falando “de coração aberto” sobre ser uma mulher feia, em um texto gostoso e leve, apesar da desgraça da personagem, Claudia traz à luz a discussão em torno da beleza e seu papel na sociedade atual. Ou melhor dizendo, da feiúra e sua função devastadora na vida de quem quer que assim seja, ou pior, assim se sinta. No final, uma série de depoimentos de outras “barangas” e suas desventuras.

O livro diverte e toca desde as mais belas às menos privilegiadas. E aos marmanjos também, de todos os tipos e gostos. Muito fácil também perceber que parte das deliciosamente bem-contadas catástrofes ali despejadas são corriqueiras na vida de qualquer pessoa.

Nota do livro: 9