terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Cinema - Pré Estréia

Por Raphael Dias Nunes

JUVENTUDE
Com: Paulo José, Domingos de Oliveira e Aderbal Freire Filho // Direção e Roteiro: Domingos de Oliveira
BRA/ 2008, Comédia, 72 minutos


Premiado no Festival de Gramado, o novo filme de Domingos de Oliveira repete a boa e velha fórmula do diretor: forte relevância no texto e diálogos, sob uma temática simples. No filme, os personagens celebram uma longa e duradoura amizade, em um encontro numa casa em Petrópolis. O bate-papo deles revela lembranças, fases da vida, os amores passados e atuais, sexualidade, além da tônica conflituosa do homem que chega aos 60/ 70 anos de idade.

Domingos de Oliveira manteve o seu padrão, que pode ser associado com as experiências que ele próprio adquiriu em sua vida. Alguns reclamam que ele não muda, outros acham magnífico. Mas é inegável que isso é sua marca registrada. Apesar do filme ter três homens que esplanam seus pensamentos sobre a vida, o diretor conseguiu dar um jeito de manter a mulher como o principal foco destes questionamentos. "Ele não cresce", alguns comentam, sobre o diretor. Deve ser porque ele nunca deixou de ser uma criança...

Destaque ainda para a música, algumas delas compostas pelo próprio Domingos de Oliveira, além de clássicos de J.S. Bach. Destaque também para a atuação do trio de artistas, que se embrenham em diálogos primorosos e inteligentes. Não é à toa que são consagrados ícones da cena cultural brasileira. Outro simples e interessante fator que merece elogios é o nome dado ao trabalho: "Juventude" resume perfeitamente a mensagem que quis ser passada.
Criticado algumas vezes por detalhes técnicos de fotografia, o fato não chega a ser relevante, diante da natureza leve, sensível e envolvente do filme.

O evento de pré-estréia de "Juventude", ocorreu nesta segunda-feira, na Casa de Cultura Laura Alvim, em Ipanema. O trio de protagonistas compareceu, dando uma pitada de bom-humor e descontração antes e depois do filme. Além deles, ilustres personalidades como as atrizes Marieta Severo e a bela Pitty Webbo.
E como é belo ver Domingos e Paulo José juntos, depois de tantos anos e trabalhos conjuntos! Uma linda relação, que dá mais legitimidade e credibilidade à realização do longa. No coquetel após o término da sessão de gala, Domingos de Oliveira, mais pra lá do que pra cá - mas sem perder a pose - deu ainda uma canja no microfone. Cantou músicas que iam de Frank Sinatra até marchinhas de carnaval (confira na imagem ao lado), contagiando e animando ainda mais o público. Figuraça querida!

XXX

Foto filme (no topo, à esquerda): Divulgação
Foto show Laura Alvim: Raphael Dias Nunes


Saudações chorumélicas!

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Em Cartaz

Por Raphael Dias Nunes

ROMANCE
Com: Wagner Moura, Letícia Sabatella, Andrea Beltrão, José Wilker // Direção: Guel Arraes
BRA/ 2008, Drama.

Após "O auto da Compadecida" e "Lisbela e o Prisioneiro", Guel Arraes tem como tônica a representação do amor em uma de suas formas mais dramáticas. Baseando seu roteiro dentro de um outro roteiro, do romance "Tristão e Isolda", o diretor monta duas representações deste clássico da literatura mundial: Uma no teatro e outra no cinema. No teatro, seus principais protagonistas (Wagner Moura e Letícia Sabatella) se apaixonam perdidamente, inspirados no amor dramático dos personagens do livro. E como todo bom romance, a trama é recheada de sofrimento e impossibilidades.

A união do casal começa na peça, que é dado por uma visão de direção e atuação. Todas as dificuldades orçamentárias, de locação, patrocínio, etc. também são evidenciadas. A desunião dos protagonistas se dá pela oferta à atriz Ana (Letícia Sabatella) de fama, riqueza e sucesso da televisão, que contrasta com a paixão imprescindível pelo teatro do diretor Pedro (Wágner Moura). Toda essa glamourização televisiva, inclusive, é frequentemente ironizada por Guel Arraes.

A produção faz uma grande homenagem ao teatro, à literatura e ao amor. Recursos metalinguísticos são usados a todo instante. O meta-teatro e a meta-TV foram as cartadas que Arraes encontrou para reverenciar estas artes. No fim, o diretor Pedro dá uma volta no magnata diretor de TV (José Wilker), com um proposital erro de continuidade, o que é uma espécie de "aula de cinema/ mini-série televisiva" ao espectador. Interesante e inteligente.
Um lance de mestre que coroa um filme de final feliz até previsível e despretencioso, porém envolvente do início ao fim.

FELIZ NATAL
Com: Leonardo Medeiros, Darlene Glória e Graziella Moretto // Direção: Selton Mello
BRA/ 2008, Drama, 100 minutos


O primeiro longa-metragem de Selton Mello possui uma pesada dose de melancolia e depressão. Sob uma atmosfera cruel, os problemas viscerais de uma família que já estava em cacos são evidenciados dentro de uma festa de Natal. O título do filme é uma interessante ironia a este "obrigatório" ritual, que se repete mesmo em casos perdidos.
No cardápio, o vício, o porre, a gula, a ira, a sacanagem, a falta de respeito, a podridão total humana e todos os elementos de uma dura realidade do cotidiano das classes médias e baixas no subúrbio. A carência de instrução familiar às bases, contaminam um interminável círculo vicioso.

Na questão familiar, as consequências brutais do rompimento decadente de um núcleo. A mãe, fora de si, entregue ao porre e à insanidade, em atuação grandiosa de Darlene Glória. O pai, um tarado perverso, sofrendo de impotência e incapaz de perdoar um de seus filhos, o Caio (Leonardo Medeiros). Caio, um ex-viciado em cocaína, que ainda sofre de abstinência, está recém saído de uma vida entregue à vagabundagem e às drogas, procura a redenção no casamento e no trabalho em um ferro-velho. Ele recebe uma ajuda financeira também de Théo, seu irmão.

Todos esses problemas chocantes são observados por pequenas crianças inocentes, que também têm papel importantíssimo, por dar a idéia de seres que são produtos do meio em que vivem. Uma triste idéia de continuidade de rumos perdidos. Caio sofrerá muito para mudar de vida e terá de vencer inúmeras dificuldades, tentações e problemas que o puxam cada vez mais para baixo.

Para quem quer ver um filme light, o longa pode até assustar por seu teor. A visão de Selton Mello é válida e real, diante de uma brilhante direção de fotografia. Entretanto, a trilha sonora deixa a desejar e ainda torna-se massante quando se casa com os intermináveis planos-sequência estáticos e monótonos. Tudo isso torna o filme (talvez propositalmente) cada vez mais cansativo. Apesar de não ser perfeito, a tragédia/ degradação humana predominante no fim, dão o tom de uma mensagem bem transmitida pelo diretor.

Para um espectador desprovido de frescuras, é um mal-estar necessário.