quarta-feira, 30 de julho de 2008

O CHORUME - MÚSICA

Por Raphael Dias Nunes

Aí vão algumas resenhas de discos já lançados, mas que merecem destaque na coluna:


SINAL ABERTO – PAULINHO DA VIOLA E TOQUINHO (AO VIVO - 1999)


O disco duplo foi gravado na apresentação de gala feita no Canecão, nos dias 14 e 15 de setembro de 1999. Paulinho da Viola e Toquinho, em shows magníficos, fizeram uma parceria digna de dar orgulho ao povo e música brasileira. Em uma sincronização perfeita, os acordes tocados com a já conhecida classe magistral de Toquinho, parecem completar a suavidade e elegância da bela voz de Paulinho.
No show, clássicos de ambos os compositores como "Nada de Novo", "Dama de Espadas", "Dança da Solidão" e "O Caderno/ Aquarela". O destaque fica para uma lindíssima apresentação solo feita por Toquinho, onde ele harmoniza três canções, "Se ela Perguntar/ Caminho de Roças/ Gente Humilde" que são literalmente "cantadas" pelas cordas de seu violão. O violonista paulista ainda toca "Tarde em Itapuã" e "Regra Três". Já Paulinho, leva a emoção ao público em "Sinal Fechado" e a empolgação geral em "Timoneiro” e “Argumento".
Um trabalho divino só poderia ser o resultado de uma brilhante parceria entre dois gênios.

Faixas:
CD1
01 - Nada de Novo
02 - Que Maravilha
03 - Na Canola
04 - Desencontro
05 - Corcovado
06 - Dama de Espadas
07 - Duvide-o-dó
08 - Minha Profissão
09 - Onde a Dor não tem Razão
10 - Coração Merudente
11 - Tua Amarim

CD2
01 - Caso Encerrado
02 - Cantando
03 - Ame
04 - Se Ela Perguntar
05 - Desafinado
06 - Dança da Solidão
07 - O Caderno
08 - Lamento
09 - Sinal Fechado
10 - Tarde em Itapoã
11 - Regra Três
12 - Turbilhão
13 - Caso Encerrado


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THE DOORS – STRANGE DAYS (1967)


Remotos tempos de 1967, a banda The Doors do ainda então promissor Jim Morrison lança o seu segundo disco no mesmo ano. Em "Strange Days", o trabalho foi feito com capricho. Músicas com melodias desde amorosas até em tom de protesto, ficariam marcadas eternamente entre os melhores sucessos da banda.
O disco une a atmosfera misteriosa e questionadora - característica da banda - com uma outra amorosamente gostosa. As letras, hora suaves, hora ácidas, mas sempre geniais, vêm muitas vezes acompanhadas de versos poéticos, arte costante em grande maioria das líricas do grupo. E a poesia torna-se literal na faixa "Horse Latitudes", que é recitada sob um efeito estremecedor e agoniante do teclado. O som, que não é uma música, está longe de ser agradável, entretanto pode-se perceber que a intenção deles era de fato, causar mal-estar. A faixa é imediatamente emendada com "Moonlight Drive", que é a mais pura poesia amorosa de Morrison, dada as metáforas como "Vamos nadar até a lua/ Vamos escalar a maré/ Penetrar na noite que/ A cidade dorme para esconder..." é de arrepiar. As paixões da juventude e a tônica da mulher como centro das inspirações segue nas canções "You're Lost Little Girl", "I Can't See Your Face in My Mind", "Unhappy Girl" e "My Eyes Have Seen You". Já o mistério, as críticas abstratas e o protesto ficam por conta de "Strange Days" e "People Are Strange", que mostram a visão de mundo de uma banda revolucionária para a época. E finalmente, a coisa esquenta de vez em "When The Music's Over", uma das melhores músicas do grupo. Conhecida por sua polêmica, a faixa é também a mais longa do álbum. Nela, Morrison extravaza toda a sua rebeldia em forma de arte e choca com o teor de suas histerias. "Father - I want to kill you - Mather?.... - I want to...- Huuu yeahh..." neste fragmento digno de Édipo, dá pra se ter uma noção até onde eles poderiam chegar. Se até hoje eles conseguem impressionar e chocar, imagine em 1967...

Faixas:
01 - Strange Days
02 - You're Lost Little Girl
03 - Love Me Two Times
04 - Unhappy Girl
05 - Horse Latitudes
06 - Moonlight Drive
07 - People Are Strange
08 - My Eyes Have Seen You
09 - I Can't See Your Face in My Mind
10 - When the Music's Over

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MOMBOJÓ - NADADENOVO (2004)


Uma banda nova, um primeiro disco, um som completamente diferente de tudo que se já viu. Foi com essa originalidade e audácia que o grupo pernambucano Mombojó apareceu no cenário musical. Misturando uma infinidade de ritmos, que vão desde o Samba/ Bossa, passando pelo Soul/ Rap e indo até as raízes do Rock/ Manguebit. A misturada parece ser meio maluca, mas agrada de primeira. O jovem conjunto, composto por voz, violão/ guitarra, baixo, bateria/ pandeiro, teclado e flauta conseguiu produzir músicas de extrema qualidade, variando climas de alegria (Deixe-se Acreditar), reflexão (Baú/ Cabidela), religiosidade (A Missa), amor (Nem Parece/ Merda) e até psicodelia (Estático/ Absorva). O resultado final do trabalho foi esse lindo disco, capaz de emocionar "à primeira vista".
A maturidade presente nas letras impressiona ainda mais ao se saber que os integrantes da banda, no ano do lançamento, tinham idades que iam de 17 a 21 anos. Nada mal para um começo de carreira destes jovens e promissores músicos. Mas infelizmente, o segundo disco da banda "Homem Espuma" (2006) frustrou boa parte de seus fãs e tornou-se exageradamente mal dosado nas características misturas de ritmos. O álbum deixou muito a desejar, e boa parte dessa decepção se deve à grande expectativa gerada no lançamento em 2006, visto que o sucesso de "Nadadenovo" foi estrondoso. A partir daí, a banda desandou, passou por momentos de crise (inclusive em alguns shows) e para piorar, ainda uma forte baixa com o falecimento de seu flautista.
O que resta agora, é aguardar seus próximos trabalhos. Talento, os jovens pernambucanos já mostraram que têm de sobra. Até demais, ao ponto de sair do compasso.

Faixas:
01 - Cabidela
02 - Deixe-se Acreditar
03 - Nem Parece
04 - Discurso Burocratico
05 - A Missa
06 - Absorva
07 - O céu, o Sol e o Mar
08 - Adelaide09 - Duas Cores
10 - Estático
11 - Merda
12 - Splash Shine
13 - Faaca
14 - Baú
15 - Container


quarta-feira, 23 de julho de 2008

O CHORUME - MÚSICA

Por Raphael Dias Nunes

DISCOS - LANÇAMENTOS

Danç-Êh-Sá - Tom Zé

A Gratuidade da Onomatopéia Experimental Ambulante


Em um disco de apenas oito faixas, o cantor e compositor baiano Tom Zé mantém o seu padrão, que é o não-padrão. A inovação e o caráter experimental faz sempre que cada lançamento seu seja uma surpresa, algo que ainda foi experimentado em nossa audição musical.

Em "Danç-êh-sá", a coisa não podia ser diferente. Desta vez, o que se pode perceber de imediato é a ausência de letras em suas músicas. Isso não significa que as mesmas não possuem vozes. As canções são feitas por diversas onomatopéias, gemidos e recitações feitas por Tom Zé e os demais músicos de sua banda. Usando instrumentos que algumas vezes chegam a ser difíceis de reconhecer, a voz é o instrumento mais utilizado e explorado neste CD. Em todos os momentos, existem sons e grunhidos vindos das gargantas humanas, feitos nos mais diversificados tons, frequências e timbres. Tudo isso torna a música descontraída e muitas vezes engraçada. Em muitos "fade-outs" o som abre espaço para as já conhecidas "blafemações" de Tom Zé.

O destaque fica para as faixas "Atchim", que é cômica por musicar todos os efeitos sonoros de um espirro, onde Tom ainda cita "O carnaval é enquanto os Deuses descansam/ Acordam os Deuses/ Começa o diabo da vida".
Já em "Taka-tá", em mais um "fade" da percussão, pode-se ouvir uma espécie de endo-marketing que Tom faz de si próprio, usando as críticas feitas a ele a seu favor: "Esse Tom Zé é um vagabundo/É um desordeiro/ Não vale nada/ Ele acaba dizendo que o povo é inteligente/ Esse Tom Zé vai perverter a sociedade/ O que será do mundo se a classe média começar a pensar?/ O primeiro mundo não quer isso/ Acabe essa música dele!"... É genial.
A sonoridade criativamente esquizita segue em todas as demais músicas, como em "Cara-Cuá", mais uma recitação de caráter de protesto: "Tudo dominado/ Com a publicidade e tudo mais".
No mais, muitos instrumentos inovadores são utilizados, principalmente os de sopro.

A polêmica, a identificação com os jovens e a rebeldia sob forma de protesto voltam a ser a tônica deste curioso disco, que ainda possui mais uma grande e principal inovação: Pode ser baixado gratuitamente pelo site da gravadora. Tom Zé, ao contrário de muitos artistas que insistem na teimosia de declarar guerra com a divulgação geometricamente progressiva de álbuns em formato digital na rede, resolveu abrir o download gratuito para qualquer internauta. Basta acessar o site de sua gravadora Trama e cadastrar-se.

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quarta-feira, 9 de julho de 2008

O CHORUME - CINEMA

Por Raphael Dias Nunes

Cachaça Cinema Clube - Porque Cinema é a Nossa Cachaça

O evento, que ocorre mensalmente - sempre às quartas-feiras - no Cine Odeon, traz ao público uma fina seleção de curta metragens. Iniciando sempre às 20h30m, o espectador paga apenas R$10,00 (meia R$5,00) e tem à sua disposição além dos curtas, uma degustação de cachaça e pista de dança. Com essa proposta, o Cachaça Cinema Clube, criado em 2002 por 4 curta metragistas, vem sempre lotando os 600 lugares da sala do Odeon e termina sempre a 1h da matina.


Nesta quarta (09/07/2008), as atrações serão as seguintes:

- A Voz da Felicidade, de Nelson Nadotti (1987): 10'
- O Incrível Sr. Blois, de Nuno César Abreu (1984): 12'
- A Estória de Clara Crocodilo, de Cristina Santeiro (1981): 10'
- Meow, de Marcos Magalhães (1984): 8'
- O Dia em que Dorival Encarou a Guarda, de de Jorge Furtado e José Pedro Goulart (1986): 14'

Depois dessa, é só sentar e apreciar o cinema e, logo após, a cachacinha também!


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Cinema Crítica
O Escafandro e a Borboleta
"Le Scaphandre et le Papillon", França, 2007, 112 min
Drama. Direção: Julian Schnabel. Elenco: Mathieu Amalric, Emmanuelle Seigner e Max von Sydow.


A 8 de Dezembro de 1995, um acidente vascular brutal mergulhou Jean-Dominique Bauby, jornalista e pai de duas crianças, num coma profundo. Ao acordar, todas as suas funções motoras estão deterioradas. Sofrendo do que a Medicina denomina locked-in syndrome , não consegue mexer-se, falar, nem sequer respirar sem assistência. Neste corpo inerte, apenas um olho mexe. E esse olho passa a ser a sua ligação com o mundo, com os outros, com a vida. Pisca-o uma vez para dizer "sim" e duas para dizer "não". Com o olho, indica as letras do alfabeto, formando palavras, frases, páginas inteiras... Com o olho, escreve este livro "O escafandro e a borboleta", cujas frases memorizou todas as manhãs, durante semanas, antes de as ditar.

Vencedor do prêmio de melhor diretor no Festival de Berlim de 2007, este comovente filme mostra a tristeza e a beleza de se viver em condições drásticas e ainda sim, repassar sua mensagem e visão de mundo. O longa, apesar de muito triste e profundo, consegue ainda ter momentos de bom humor. Vale mais que o ingresso. É uma nobre lição de vida.


O filme encontra-se em cartaz nos seguintes cinemas: Espaço de Cinema 1, Estação Vivo Gávea, Odeon, Ponto Cine, Espaço Rio Design 2 e Estação Barra Point.


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quarta-feira, 2 de julho de 2008

O CHORUME - MÚSICA

Por Raphael Dias Nunes

O MISTÉRIO SEM FIM

A lenda que gira em torno da sincronização entre o filme " O Mágico de Oz" e o disco "The Dark Side of The Moon"


O assunto é pra lá de batido. Alguns acreditam numa verdadeira sincronização genial feita pelo Pink Floyd, outros já são mais céticos e afirmam ser mera coincidência. Mas o fato é que o a brincadeira funciona e impressiona. Basta cortar o som original do filme "O Mágico de Oz" e, assim que o leão da MGM dar o seu terceiro e último rugido, apertar play no disco "Dark Side os The Moon", do Pink Floyd. A partir daí, uma nova trilha sonora alternativa é dada ao filme, feito em 1939. O disco, que é considerado por muitos a grande obra-prima da banda inglesa de rock progressivo, foi gravado em 1973, bem depois do lançamento do filme.
As coincidências entre as duas obras - filme e disco - começam já pela capa do CD: O prisma óptico que recebe uma faixa luminosa branca em seu lado esquerdo, que é convertida em um feixe colorido no lado direito, pode ser comparado com a natureza revolucionária do filme, o primeiro a usar a tecnologia Technicolor. É possível se fazer uma analogia com o momento em que o filme sai do preto e branco para o colorido. Com o filme já em execução, são diversos os momentos em que existe total sincronia do som com as imagens. Já no início, com a apresentação dos créditos, o som tranquilo de "Breathe in The Air". Na entrada de "Time", o clima tenso do filme combina com a introdução da música. Há ainda outros bons momentos, como em "Us and Them" e em "Brain Damage". Mas o grande momento mesmo se dá em toda a brilhante faixa "The Great Gig in The Sky" e, logo em seguida, em "Money". A cena do tornado é agonizante assim como os grito estridente feminino dado na música, os momentos de desespero parecem acompanhar cada suspiro da cantora. É uma harmonia perfeita durante toda a faixa, que é de deixar de cabelos em pé. Em sequência, a menina Dorothy abre a porta da casa, entrando no mundo de Oz e tornando o filme colorido, ao som do barulho dos caixas e do clássico solo de baixo, na introdução de "Money". O trecho pode ser conferido em http://www.youtube.com/watch?v=uNbv0L1x0iA .
A polêmica em torno dessa brincadeira é grande. Muitos acreditam que é loucura, coisa de doidão. Outros dizem que isso foi feito prositalmente na mais absoluta das certezas, mesmo com o fato sendo negado com veemência pelos próprios músicos do Pink Floyd. A questão fica por conta do espectador. A única certeza é a diversão garantida ao ver essa curiosa mixagem.


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INDICAÇÃO CHORUME


Groundation - Young Tree

Para quem gosta de reggae de qualidade, o álbum "Young Tree" é um prato cheio. Aliás, a qualidade da banda é de impressionar. Seja tanto na diversidade das influências para se construir um reggae que não perde suas raízes, quanto na qualidade dos músicos e dos instrumentos utilizados. Adeptos a Jah, o grupo americano de reggae espiritual citam seu Deus diversas vezes e mantém a excelência do som originado na Jamaica, no grupo The Waillers. Não é à toa que eles são considerados a melhor banda de reggae da atualidade. Muitos ainda acham que dentro do gênero musical, eles ficam atrás apenas do rei Bob Marley.
O disco, o primeiro dos seis de toda a banda, foi produzido em 1999 e conta com músicas extraordinárias. O sopro e o clima dançante/ alegre pode ser conferido na maioria de suas faixas, com a exceção de "Dream", uma faixa completamente diferente do todo o álbum, e por isso, uma das melhores, senão a melhor. Com um piano clássico misturado a uma batida de guitarra típica de reggae, a percussão é delicadamente caprichada neste som. Os solos de piano são lindos e deles, pode-se perceber a influência que o jazz tem sobre a banda. Nas demais faixas, o destaque fica para "Long Long Ago", "Glory To The Kings", "Confusing Situation" e "Craven Fe' Death", onde se pode distinguir o clima de relaxamento/ suavidade provocado pela percussão e o sopro, sem deixar de ter momentos alegres e empolgantes na mesma música. Um capricho. Nas duas últimas faixas, a banda arrisca um Dub, em "Groundation Chant" e em "Groundation Dub", mostrando que o eco característico do Dub também viria a influenciar o grupo.