domingo, 8 de março de 2009

A (Re)Invenção da Bossa

Por Raphael Dias Nunes

Tom Zé - Estudando a Bossa (2008)

Após Estudando o Samba (1976) e Estudando o Pagode (2005), o cantor e compositor baiano Tom Zé volta a fazer um estudo sobre outro ritmo musical brasileiro. A Bossa Nova, no ano em que completou o seu cinquentenário (2008), foi o gênero da vez. Mas as semelhanças param por aí. O disco faz juz ao nome ao estudar - muito mais aprofundado do que experimental - sobre a musicalidade criada pelo piano de Tom Jobim, a poesia de Vinícius de Moraes e o violão de João Gilberto. Cada faixa, bem ao estilo da Bossa, foi feita com intérpretes convidados. À exceção de "João nos Tribunais", onde o autor faz um solo da história da Bossa Nova, mencionando os antológicos shows no Carnegie Hall (NY). Na obra, as influências como o Jazz e o Rock e até o bolero, são ouvidos nas faixas com David Byrne (cantada em inglês), além da seguinte com Jussara Silveira e depois com Marina de La Riva.
A sonoridade segue com a suave batida de violeira e percussão fiéis ao ritmo. O experimentalismo típico fica por conta do dos backing vocals e às síncopes (quebra de ritmo em um compasso) que reverenciam a turma da Bossa: Baden Powel, Carlos Lyra, Nara Leão, Roberto Menescau, Miely e Ronaldo Bôscoli. O já conhecido sarcasmo dá a suas caras na canção feita com Fernanda Takai - que depois de largar o rock pelo samba-bossa - na canção citada Buenos Aires como a capital do Brasil. Quer queira ou quer não, os estudos de Tom Zé continuam. Qual será o próximo ritmo a ser explorado?

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Cinema - Pré Estréia

Por Raphael Dias Nunes

JUVENTUDE
Com: Paulo José, Domingos de Oliveira e Aderbal Freire Filho // Direção e Roteiro: Domingos de Oliveira
BRA/ 2008, Comédia, 72 minutos


Premiado no Festival de Gramado, o novo filme de Domingos de Oliveira repete a boa e velha fórmula do diretor: forte relevância no texto e diálogos, sob uma temática simples. No filme, os personagens celebram uma longa e duradoura amizade, em um encontro numa casa em Petrópolis. O bate-papo deles revela lembranças, fases da vida, os amores passados e atuais, sexualidade, além da tônica conflituosa do homem que chega aos 60/ 70 anos de idade.

Domingos de Oliveira manteve o seu padrão, que pode ser associado com as experiências que ele próprio adquiriu em sua vida. Alguns reclamam que ele não muda, outros acham magnífico. Mas é inegável que isso é sua marca registrada. Apesar do filme ter três homens que esplanam seus pensamentos sobre a vida, o diretor conseguiu dar um jeito de manter a mulher como o principal foco destes questionamentos. "Ele não cresce", alguns comentam, sobre o diretor. Deve ser porque ele nunca deixou de ser uma criança...

Destaque ainda para a música, algumas delas compostas pelo próprio Domingos de Oliveira, além de clássicos de J.S. Bach. Destaque também para a atuação do trio de artistas, que se embrenham em diálogos primorosos e inteligentes. Não é à toa que são consagrados ícones da cena cultural brasileira. Outro simples e interessante fator que merece elogios é o nome dado ao trabalho: "Juventude" resume perfeitamente a mensagem que quis ser passada.
Criticado algumas vezes por detalhes técnicos de fotografia, o fato não chega a ser relevante, diante da natureza leve, sensível e envolvente do filme.

O evento de pré-estréia de "Juventude", ocorreu nesta segunda-feira, na Casa de Cultura Laura Alvim, em Ipanema. O trio de protagonistas compareceu, dando uma pitada de bom-humor e descontração antes e depois do filme. Além deles, ilustres personalidades como as atrizes Marieta Severo e a bela Pitty Webbo.
E como é belo ver Domingos e Paulo José juntos, depois de tantos anos e trabalhos conjuntos! Uma linda relação, que dá mais legitimidade e credibilidade à realização do longa. No coquetel após o término da sessão de gala, Domingos de Oliveira, mais pra lá do que pra cá - mas sem perder a pose - deu ainda uma canja no microfone. Cantou músicas que iam de Frank Sinatra até marchinhas de carnaval (confira na imagem ao lado), contagiando e animando ainda mais o público. Figuraça querida!

XXX

Foto filme (no topo, à esquerda): Divulgação
Foto show Laura Alvim: Raphael Dias Nunes


Saudações chorumélicas!

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Em Cartaz

Por Raphael Dias Nunes

ROMANCE
Com: Wagner Moura, Letícia Sabatella, Andrea Beltrão, José Wilker // Direção: Guel Arraes
BRA/ 2008, Drama.

Após "O auto da Compadecida" e "Lisbela e o Prisioneiro", Guel Arraes tem como tônica a representação do amor em uma de suas formas mais dramáticas. Baseando seu roteiro dentro de um outro roteiro, do romance "Tristão e Isolda", o diretor monta duas representações deste clássico da literatura mundial: Uma no teatro e outra no cinema. No teatro, seus principais protagonistas (Wagner Moura e Letícia Sabatella) se apaixonam perdidamente, inspirados no amor dramático dos personagens do livro. E como todo bom romance, a trama é recheada de sofrimento e impossibilidades.

A união do casal começa na peça, que é dado por uma visão de direção e atuação. Todas as dificuldades orçamentárias, de locação, patrocínio, etc. também são evidenciadas. A desunião dos protagonistas se dá pela oferta à atriz Ana (Letícia Sabatella) de fama, riqueza e sucesso da televisão, que contrasta com a paixão imprescindível pelo teatro do diretor Pedro (Wágner Moura). Toda essa glamourização televisiva, inclusive, é frequentemente ironizada por Guel Arraes.

A produção faz uma grande homenagem ao teatro, à literatura e ao amor. Recursos metalinguísticos são usados a todo instante. O meta-teatro e a meta-TV foram as cartadas que Arraes encontrou para reverenciar estas artes. No fim, o diretor Pedro dá uma volta no magnata diretor de TV (José Wilker), com um proposital erro de continuidade, o que é uma espécie de "aula de cinema/ mini-série televisiva" ao espectador. Interesante e inteligente.
Um lance de mestre que coroa um filme de final feliz até previsível e despretencioso, porém envolvente do início ao fim.

FELIZ NATAL
Com: Leonardo Medeiros, Darlene Glória e Graziella Moretto // Direção: Selton Mello
BRA/ 2008, Drama, 100 minutos


O primeiro longa-metragem de Selton Mello possui uma pesada dose de melancolia e depressão. Sob uma atmosfera cruel, os problemas viscerais de uma família que já estava em cacos são evidenciados dentro de uma festa de Natal. O título do filme é uma interessante ironia a este "obrigatório" ritual, que se repete mesmo em casos perdidos.
No cardápio, o vício, o porre, a gula, a ira, a sacanagem, a falta de respeito, a podridão total humana e todos os elementos de uma dura realidade do cotidiano das classes médias e baixas no subúrbio. A carência de instrução familiar às bases, contaminam um interminável círculo vicioso.

Na questão familiar, as consequências brutais do rompimento decadente de um núcleo. A mãe, fora de si, entregue ao porre e à insanidade, em atuação grandiosa de Darlene Glória. O pai, um tarado perverso, sofrendo de impotência e incapaz de perdoar um de seus filhos, o Caio (Leonardo Medeiros). Caio, um ex-viciado em cocaína, que ainda sofre de abstinência, está recém saído de uma vida entregue à vagabundagem e às drogas, procura a redenção no casamento e no trabalho em um ferro-velho. Ele recebe uma ajuda financeira também de Théo, seu irmão.

Todos esses problemas chocantes são observados por pequenas crianças inocentes, que também têm papel importantíssimo, por dar a idéia de seres que são produtos do meio em que vivem. Uma triste idéia de continuidade de rumos perdidos. Caio sofrerá muito para mudar de vida e terá de vencer inúmeras dificuldades, tentações e problemas que o puxam cada vez mais para baixo.

Para quem quer ver um filme light, o longa pode até assustar por seu teor. A visão de Selton Mello é válida e real, diante de uma brilhante direção de fotografia. Entretanto, a trilha sonora deixa a desejar e ainda torna-se massante quando se casa com os intermináveis planos-sequência estáticos e monótonos. Tudo isso torna o filme (talvez propositalmente) cada vez mais cansativo. Apesar de não ser perfeito, a tragédia/ degradação humana predominante no fim, dão o tom de uma mensagem bem transmitida pelo diretor.

Para um espectador desprovido de frescuras, é um mal-estar necessário.

sábado, 22 de novembro de 2008

Woody Allen em dose dupla.

Por Leonardo Vicente

Em cartaz nos cinemas do Rio, Vicky Cristina Barcelona veio para confirmar a boa fase do diretor nova-iorquino Woody Allen. O filme traz novamente em um dos papéis principais a atriz Scarlet Johansson que já havia contracenado nos filmes de Allen em Scoop – o grande furo (2006) e Match Point (2005). Além bela atuação de Johansson como Cristina, uma jovem que almeja descobrir sua vocação para as artes e acredita no amor tempestuoso, a atuação de Penélope Cruz (Volver), como Maria Elena, confirma o talento que a atriz não demonstrava há tempos devido a papéis não muito marcantes.

Novamente, Allen não escolheu a cidade de Nova Iorque para ser o cenário principal. O filme se passa nas cidades de Barcelona e Oviedo, porém, a cidade norte-americana berço do diretor não poderia ficar de fora, algumas cenas também foram gravadas lá.

Em Vicky Cristina e Barcelona, Woody Allen consegue abordar, com a sutileza que vem se especializando, vários temas interessantes como a paixão e suas variações. O caso da personagem Vicky (Rebecca Hall) é um exemplo disso: Segura, Vicky é o tipo de pessoa que sempre planejou com pormenores toda a sua vida, mas durante a viagem e devido a alguns acontecimentos começa a questionar se é essa realmente a vida que gostaria de levar . O filme também quebra preconceitos desrotulando o romance com o triângulo amoroso entre as personagens Cristina, Maria Elena e Juan Antonio (Javier Barden). A cena mais polêmica é a do beijo entre as atrizes Penélope Cruz e Scarlet Johansson.

Com o olhar do meio artístico da burguesia que Allen conhece muito bem, a ótima escolha da trilha sonora, as grandes atuações de todos os atores (o que é já é de se esperar nos filmes de Woody Allen) e os diversos temas bem abordados, Vicky Cristina Barcelona torna-se um filme imperdível para os amantes da sétima arte, fazendo valer à pena cada centavo do ingresso e da pipoca.

Para quem quer saber mais, assista o trailer aqui:


O Chorume recomenda:

Outro filme imperdível de Woody Allen para os cinéfilos de plantão é o filme que antecede ao que se encontra de cartaz, O suspense dramático O Sonho de Cassandra (2007) surpreende novamente por não levar o toque cômico do diretor e por ser o terceiro filme seguido que não é rodado em Nova Iorque. A estória se constrói toda em Londres.

No filme, os atores Ewan McGregor (Trainspoting) e Colin Farrel (Por um fio) interpretam dois irmãos com ambições diferentes, porém com laços familiares muito fortes, que se vêem diante de uma proposta do tio deles, interpretado por Tom Wikinson, que se torna quase irrecusável diante das situações que se encontram – um viciado em jogo e outro com ambições maiores do que gerenciar o antigo restaurante da família.

Em O Sonho de Cassandra, Woody Allen “brinca” com o caráter de cada personagem e os envolve em uma trama que, muito interessante, leva o suspense ao extremo. Com belas atuações, talvez o único problema do filme é parecer que acaba de uma hora pra outra com um final talvez não muito bem trabalhado.

Porém, por ser um ótimo suspense dramático e com uma ótima estória, O Chorume recomenda-o àqueles que gostam do trabalho de Allen e de filmes do gênero.

Clique aqui para assistir o trailer do filme.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Comentários sem comentários


foto: blog Máquina de Escrever, do G1

Por Alexandre Vasconcellos

Tem coisas na imprensa que dão dó. Destas, aliás, estão por demais cheios os jornais, sites, blogs noticiosos, revistas, etc. Mas quando há o que se elogiar, elogiemos também!

Um interessante exercício de reflexão sobre cultura pode ser feito a partir de uma simples nota sobre uma conferência literária, mais especificamente, no Fórum das Letras de Ouro Preto (Flop – que, em parceria com o Fórum de Parati, Flip, formam a dupla de quase-onomatopéias mais propensas a trocadilhos da cena cultural-intelectual tupiniquim). A reportagem, em si, é muito boa.

Pois bem. Debatiam, na abertura do Flop, o músico Lobão e o multifacetado Nélson Motta. Do tradicionalmente polêmico Lobão, veio o que se espera: polêmica. Do geralmente apaziguador e tranqüilo Motta, veio o inesperado: polêmica. Enfim, prato cheio para a imprensa.

Segue um trecho da matéria do jornalista e escritor Luciano Trigo, enviado do blog “Máquina de Escrever”, do G1, ao evento:

“Eu acho o Chico Buarque um horror, um equívoco, um chato, um parnasiano. O Olavo Bilac é muito mais moderno que ele. Ele faz uma música anêmica, sem energia, sem vivacidade, parece que precisa tomar soro. A Bossa Nova é a mesma coisa, uma música easy listening, que toca em loja de departamento quando a gente vai comprar uma meia”.

Precisa falar que esta frase é do Lobão?

Você discorda da argumentação do Lobão por ter sido feita por ele? “Quem é ele para falar de Bossa Nova”, alguns dizem.

E esta?

“Tirando Tom, Vinicius e João Gilberto, tudo que veio depois na Bossa Nova foi diluição. A gente sabe que Roberto Menescal, Carlos Lyra etc são músicos de segundo time”.

Proferida por Nelson Motta, ativista do Tropicalismo antropofágico do fim dos anos 60e de tudo que houve de lá para cá. Para alguns, um grande estudioso da cultura brasileira. Para outros, um ufanista.

Qual dos dois está mais certo, pergunto aos colegas chorumélicos? Com qual você concorda?

Você está julgando o que? O que disse o Lobão e o Nelsinho, ou quem o disse?

Muito se fala (inclusive por mim) do nível da produção jornalística e cultural contemporânea. È raso, é pretensioso, porém, pouco ambicioso. Ou é excessivamente saudosista ou é uma roupagem nova de velhos conceitos. Falta o novo. Fácil ouvir isso sobre a arte dos dias de hoje. Já sobre a imprensa, tacar pedras é moleza (e principal mote deste blog). Tem a sensacionalista. Tem a panfletária, partidária, enviesada. Tem a pobre mesmo, sem recursos lingüísticos e técnicos, preguiçosa.

Mas, voltando a matéria da Flop, outro detalhe me salta aos olhos. Como exercício, caro leitor desta lixeira, leia os comentários deste post. Um show de horror! Nem me atenho a resenhar os erros de português, que, em internet, são corriqueiros. Mas a capacidade argumentativa das pessoas é lastimável! E o que mais me assusta (porém, não surpreende): a impressão de que vivemos num mundo carente de cabeças pensantes! Sem falar na falta de respeito pela opinião alheia, seja esta de um artista ou de um outro “comentarista” no post.

Quem é o Lobão ou o Nelsinho para falar da Bossa? E quem é você para falar do Lobão ou do Nelson?

Argumentos como estes iniciam brigas, validam mordaças e ditaduras. As institucionais e as culturais. As explícitas e as cotidianas. As que nossos pais viveram e a que vivemos hoje.

É este o público para o qual a arte e a informação são produzidas? Devemos repensar, então, a qualidade de quem? A arte e o artista são reflexos da sociedade? E a sociedade, é reflexo de quem?


Pensem. O mundo precisa.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Duas breves resenhas; Duas grandes produções

Por Raphael Dias Nunes

O CHORUME - CINEMA

NA NATUREZA SELVAGEM (Into the Wild)
Com: Emile Hirsch / Direção e Roteiro: Sean Penn.
EUA/ 2007, Drama, 140 min.

Sean Penn iniciou sua carreira de diretor em grande estilo. O filme se baseia no homem que busca a redenção, se rebela definitivamente contra o sistema político vigente, que começa pela família.
Essa é a história de Christopher McCandless, que depois de se formar, cai na estrada sem rumo. Uma espécie de auto-afirmação, um surto contra os padrões de vida norte-americanos, em um momento de transição de sua vida, no início da década de 90. McCandless abandona sua família, doa e queima todas as suas economias, muda de nome e mergulha de cabeça no desconhecido. Uma espécie de sonho de liberdade com um quê de rebeldia, tudo isso de uma forma impressionantemente convicta.

O roteiro não segue uma ordem cronológica exata. O filme se inicia no começo do fim de sua jornada, quando ele chega ao Alasca, buscando logo no auge de suas aspirações de se isolar cada vez mais. Com uma trilha sonora maravilhosa, orquestrada por Eddie Vedder, são mostradas as transformações tanto filosóficas quanto físicas do jovem - que acabara de entrar em sua segunda década de vida. Tudo isso em perfeita sintonia com o som. O personagem cita diversos autores literários, em especial os franceses, mas o espírito beatnik é também marcante pelo estilo de vida adotado na estrada, com caronas, música e a ideologia não idealizada de sempre ir em frente.

No Alasca, em contato mais íntimo possível da vida selvagem, o personagem é consumido cada vez mais por essa dura vida desconhecida até então. Árduas lições são absorvidas por ele, que em dado momento grava em seu ônibus-abrigo (o Magic Bus) "Hapiness is only real when is shared". A cadência dos acontecimentos vão comovendo o espectador aos poucos.

Além das frases marcantes e personagens sensacionais no caminho do aventureiro, um surpreendente final coroa esta grande e bela produção. Vale a sua audiência!


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EDU, CORAÇÃO DE OURO
Com: Paulo José e Leila Diniz/ Direção: Domingos Oliveira.
Brasil/ 1968. Comédia, 85min, P&B

Um filme onde a grande ALEGRIA da vida é celebrada
a todo INSTANTE que se passa
seja na MELANCOLIA extrema
no porre e na FARRA com os amigos
ou no não realizado e frustrante MATRIMÔNIO cultural
Enfim, uma CRÔNICA de um carioca LÍRICO-OBSCENO.

Em um longa de brilhante direção, Domingos de Oliveira dá uma aula de como se fazer um bom filme usando poucos recursos. Com um texto poeticamente formidável e tiradas brilhantes dos personagens, a tônica desta obra é o homem solteiro contemporâneo, que busca formas de ser feliz independente da instituição "casamento", mas que no fundo gostaria de ter um. O homem solitário, próximo de chegar aos 30, reflexivo pós-traumas amorosos. O homem inquieto, insatisfeito, intenso, mas que muitas vezes nem sabe direito o que realmente busca.

Além disso, é redesenhado o perfil do carioca contemporâneo: O cara curioso, incansável azarador eterno, que se apaixona a todo instante por todas as formas da beleza de ser da mulher. Os efeitos inovadores de microfonagem mostram a malandragem do protagonista (Edu) que usa uma oratória sincera e interminável para se esquivar de assuntos indesejados. Um ser serelepe, popular, falador, fanfarrão, palhaço e inquieto pelo efeito que as mulheres fazem nele.

Com uma também incrível direção de fotografia, principalmente nos enquadramentos, belíssimas imagens do Rio antigo se misturam com constantes reverências às diversas artes: A música de Noel Rosa e Carmem Miranda; ao metacinema (Singing in the Rain/ Deus e o Diabo na terra do Sol), ao desenho, à fotografia, ao jornalismo e também à poesia.

Algumas grandes frases citadas:
- "Esse tempo de ócio, eu prezo-o nu"
- "Manter a palavra e o compromisso é extremamente difícil. Igualmente difícil é fingir que elas não existem
- "Jornalismo não busca coisas boas e sim as ruins"

No fim, um interessante contraste entre o fundo do poço e a alegria extrema se chocam, deixando as conclusões finais e críticas por conta do espectador. Em suma, um filme curto e dinâmico, que não cansa em momento algum, apesar de ser em P&B.
Simplesmente maravilhoso.

Saudações Chorumélicas!

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Pílulas Culturais

Por Alexandre Vasconcellos


Alex Turner, vocalista do Arctic Monkeys, durante show retratado em DVD

Arctic Monkeys At The Apollo

Sim, o Festival do Rio acabou. Mas as novidades nas telas de cinema, não. Em interessante iniciativa de marketing, a banda inglesa Arctic Monkeys fez a première de seu novo DVD, “Arctic Monkeys At The Apollo”, em exibições simultâneas em salas de cinema de cinco países: Inglaterra, Luxemburgo, Espanha, Bélgica e...Brasil! Mais uma prova da importância tupiniquim no cenário internacional da indústria fonográfica.

No Brasil, o show de encerramento da última turnê da banda, realizado em Manchester (ING), no místico The Apollo, foi exibido nesta terça-feira, no tradicional Cine Odeon. Como era de se esperar, uma boa quantidade de fãs e apreciadores da banda compareceu, assim como a reportagem de O CHORUME.

Como DVD, este lançamento trará o que se espera da banda inglesa: um rock agitado, bem tocado e contagiante. Os Arctic Monkeys estouraram em 2006, após intensa divulgação boca-a-boca em sites de relacionamento e compartilhamento de músicas, tornando-se uma febre na Inglaterra e sucesso internacional. Seu primeiro álbum, "Whatever People Say I Am, That's What I'm Not", tornou-se o álbum de estréia mais vendido na história, batendo o "Definetly Maybe", dos também britânicos do Oasis, de 1994.

Sobre esta obra, infelizmente, ficou faltando uma maior captação do público no show, com uma imagem demasiadamente centrada na banda e poucas inserções sonoras da platéia, o que deixou o DVD “menos quente” do que se esperaria.

A filmagem em si dá a entender que haverá logo uma versão 3D em exibição nos cinemas, quando o DVD cairá no circuito comercial, em novembro.

Mas o evento em si, apesar de conceitualmente interessante, acabou sendo um tanto arrastado. Como não havia uma ambientação da sala de cinema para dar um clima de show e o som da casa não estava tão alto, a exibição acabou perdendo força. Mas foi um bom programa.

Como evento, nota 6 para execução e 10 para a idéia.

Como DVD, nota 8.



“A Vida Sexual da Mulher Feia”, TAJES, Claudia - Ed. Agir, 2005

A Vida Sexual da Mulher Feia

Barangas, não se ofendam com o título. Jamais a equipe CHORUME cometeria a indelicadeza de indicar uma leitura ofensiva a quem quer que seja. E “A Vida Sexual da Mulher Feia” é, sem dúvida, uma ótima recomendação!

Este livro, da redatora publicitária Claudia Tajes, traz as aventuras (ou melhor, desventuras) de Jucianara, que como ela mesma se descreve, “os pais de uma menina recém-nascida não podem imaginar que um dia ela se transformará em uma mulher feia. Mas talvez seguindo algum instinto, eles dificilmente darão à filha um nome bonito”.

Em tom desconcertantemente tragicômico, a autora fala da primeira paixão de infância, primeiro beijo, primeira vez, casos amorosos diversos, tudo com a vida familiar e profissional de Jucianara servindo de pano de fundo.

Falando “de coração aberto” sobre ser uma mulher feia, em um texto gostoso e leve, apesar da desgraça da personagem, Claudia traz à luz a discussão em torno da beleza e seu papel na sociedade atual. Ou melhor dizendo, da feiúra e sua função devastadora na vida de quem quer que assim seja, ou pior, assim se sinta. No final, uma série de depoimentos de outras “barangas” e suas desventuras.

O livro diverte e toca desde as mais belas às menos privilegiadas. E aos marmanjos também, de todos os tipos e gostos. Muito fácil também perceber que parte das deliciosamente bem-contadas catástrofes ali despejadas são corriqueiras na vida de qualquer pessoa.

Nota do livro: 9