quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Mainstream


Foto: Linda jovem exibe camisa de protesto criativa


Por Alexandre Vasconcellos, pseudo-intelectual

Antes de mais nada, cabe uma definição:

Do inglês Main+Stream= Principal+canal, tendência. Numa tradução da expressão, seria algo como tendência em voga, atual.

Pois, vejamos.

Ando convivendo muito com pessoas antenadas. Sabe, daquelas realmente in, que entendem pacas de filmes B chilenos dos anos 40, música neo-folk-psicodélica-hindu de bandas do subúrbio de São Paulo ou do interior de Pernambuco. Ácidos críticos da cultura Pop e porta-estandartes da contracultura de ontem e de hoje, auto-intitulados como fiéis herdeiros desta importante incumbência: subverter o establishment.

Qual é o representante maior desta corrente de fluência sócio-cultural? Qual é o alvo? Qual porta deve ser batida até que caia? Estas perguntas são sempre respondidas com palavras que circundam o universo de uma outra, esta sim controversa e significante: Mainstream. Ela tem várias caras, várias roupagens, mas é só ela. É a Mídia. Opinião Pública. É a Globo (haha). É a Jovem Pan (hahahaha). De fato, é e não é tudo isso.

Entende-se como Mainstream, para efeito do debate, qualquer manifestação artística feita primordialmente para ser vendida para um bocado de gente, devidamente alocada em um canal de consumo, direcionada a determinado público.

Não há o que discordar, quando se diz que o grosso do grosso do que é veiculado pelos grandes mídias é puramente comercial. Fato. Embasado numa linguagem fácil, palatável, justamente para atingir um grande número de pessoas e, assim, obter resultados diretos e indiretos em escala, volume. É a economia da cultura, inexorável processo dentro de um universo capitalista.

O que me intriga nesta análise é o posicionamento “à margem”. O marginalismo, digamos, do “antenados way of life” é curioso. O discurso em voga neste segmento (que por si só é um grande e heterogêneo universo) é o de sê-lo para preservar sua integridade artística. A busca pelo santo graal da tal liberdade criativa, ser dono do próprio nariz, caneta, pincel, roteiro e que tais. Lutar com recursos limitados para levar sua arte a um público que possa digeri-la. Arte em primeiro lugar. Louvável! Clap Clap Clap!

Tudo muito bonito, muito legal. Mas, pegando-se uma lupa e chegando bem perto da coisa, tudo vira um grande Monet. Façamos um exercício: comparemos o quadro da contracultura dos anos 60 e 70 ao cenário atual.

Aspecto 1 – Difusão: Muitos dos movimentos anti-establishment surgiram em agremiações e grupos de pessoas, de diferentes classes, e se difundiram no boca-a-boca, em ações panfletárias que põem no chinelo muitas estratégias de marketing viral correntes. Logo, milhares de pessoas estavam mobilizadas.

Hoje o cara monta MySpace, blog, site, Orkut, Facebook, participa de fóruns de internet, além, é claro, da ação panfletária e networking social. A coisa toda é mais abrangente, porém, nasce de esforços individuais, o que é curioso. As ferramentas estão aí, acessíveis a boa parcela da população, porém, o poder de mobilização ainda é pequeno. Diversas tribos se formam para intercâmbio entre si e com outras que compartilhem de preceitos associáveis. Pode-se argumentar de que não há um grande movimento, como antes, mas sim, toda uma cena crescente, emergente, fervilhante.

Caímos então no aspecto 2 – Os Cenários: Lá atrás, impulsionados pela existência de conflitos explícitos entre governos, população e agentes econômicos, surgiam correntes ideológicas bem definidas. Estas faziam com que facilmente pudesse se envolver um grande número de pessoas em torno de qualquer coisa que contivesse em sua pauta argumentos contestatórios. Movimento Hippie, Tropicália, Pop Art e mais alguns tomaram grande proporção amparados por questões externas à Arte em si, fazendo desta um meio para uma finalidade.

Os de cá, agora, encontram-se numa encruzilhada semântica. Se dizem contestadores, provocadores, a crème de la crème, reserva moral e artística do mundo. Princípios sólidos e reputação ilibada. Porém, falam, na sua imensa maioria, para seus próprios nichos. Dizem querer propor uma nova linguagem, mas só conseguem falar para os mesmos 13, que trazem sempre mais um, mas nunca mais 7.

Quando muito, estes bravos ganham alguma repercussão no “mercado”, aparecendo em magazines on-line e sites especializados, com trabalhos expostos em páginas patrocinadas pelo Google e Lojas Americanas. Daí, se porventura chegam ao chamado Mainstream, são taxados como vendidos e são enxotados da sua tribo de origem, caindo nos braços amargos do povão para serem julgados pelo sucesso. Nascem então as frases “eu gostava de como era antes”, “sou fã deles desde o início, mas agora tocam na novela, daí, fudeu!” e semelhantes.

Chegamos ao aspecto final, 3- Mainstream e os mercados: O dilema de Tostines aqui se faz presente em uma poética simbologia: O artista está no mainstream porque agrada e vende ou ele agrada e vende porque se adequou ao mainstream?

Cara, como em tudo, inclusive neste texto que embebeda vossas pupilas, as generalizações são perigosas. Nem todo mundo lá é bom e nem todo mundo cá é ruim. Tem muita bosta independente e muita coisa boa com contrato milionário. E gosto não se discute, é óbvio, mas esse argumento inviabiliza qualquer debate (hehe).

Usando a comparação de épocas novamente, um tanto quanto cruel e díspar, pensemos: quem é mais contestador, revolucionário, qualificado, independente: Cansei de Ser Sexy ou Chico Buarque? Gerald Thomas ou Zé Celso (ou Antunes Filho, para os que sabem que defendo o Zé)? David Lynch ou Stanley Kubrick? Fernando Meirelles ou Joaquim Pedro de Andrade?

Falei essa porra toda para chegar neste ponto: porque os pretensos intelectuais da atualidade são tão ostensivos no combate ao Mainstream, ao establishment? Não se pode trazer a qualidade, a mudança e a inovação para a linguagem comercial? O contexto de hipermídia atual potencializa ou neutraliza a mudança?

Será a cena indie um posicionamento à parte, marginal ou será que esta já foi engolida pela mão invisível do mercado? Teria sido ela devidamente segmentada, etiquetada e alocada em canais de consumo bem claros, onde toda a dimensão comportamental é imposta pelos micro-nichos, agrupados em um macro cenário bem explorado economicamente?

O que é, hoje, o Mainstream e o que é hoje a contracultura?

Os independentes são a reserva moral da produção intelectual e cultural?

Há espaço para qualidade nos grandes veículos, mercadores a varejo de produtos para consumo fast food?

Seriam os antenados mais uma bandeja na grande gôndola do Supermercado?

Será que isso é prejudicial à contracultura?

Com uma internet em mudança, para bem e para mal, a produção cultural não se encontra em uma fase de necessidade de reinvenção, por necessidade mercadológica e também artística?

É possível ser Cool e ser Pop ao mesmo tempo, com qualidade?

Qualitativo e quantitativo rimam?


Parabéns aos que leram essa porra até aqui! Muito lixo para vocês!

Saudações Chorumélicas!

OBS 1: O maior fenômeno indie do Brasil chama-se Banda Calypso. E tenho dito! Não adianta virar o rosto, não! Eu sei o que se passa por trás desses óculos retangulares...

OBS 2: Chico, Gil, Caetano, Vinícius, Baden Powel, Tom, Beatles, Stones, Lou Reed, The Who, Cazuza, The Smiths, The Clash, Sex Pistols, Ramones, Tom Zé, Frank Zappa e muitos outros. Tudo Pop.

OBS 3: Mais um artigo com imensa chupação do Wikipedia. O restante é de filhos do Google.

OBS 4: Recorde de utilização de itálico em um blog brasileiro.

OBS 5: Se eu lançar uma banda, um filme, um programa de TV, um blog, um jornal, uma pipa ou um peido, quero ser mainstream, por favor.

Grato.

3 comentários:

Bruna Ayres disse...

Huuuum, chato! Assunto batido. Não li até o final não.

Raphael Dias Nunes disse...

Infelizmente eu sou obrigado a concordar com o comentário acima... Só que eu li até o final.

Gabriel Mattos disse...

texto bom, bem escrito....assunto complicado por ser extremamente debatido!!!

Ao contrário dos posts de cima gostei do texto, achei que ficou um pouco longo...mas ta blzz..

absss