quarta-feira, 23 de julho de 2008

O CHORUME - MÚSICA

Por Raphael Dias Nunes

DISCOS - LANÇAMENTOS

Danç-Êh-Sá - Tom Zé

A Gratuidade da Onomatopéia Experimental Ambulante


Em um disco de apenas oito faixas, o cantor e compositor baiano Tom Zé mantém o seu padrão, que é o não-padrão. A inovação e o caráter experimental faz sempre que cada lançamento seu seja uma surpresa, algo que ainda foi experimentado em nossa audição musical.

Em "Danç-êh-sá", a coisa não podia ser diferente. Desta vez, o que se pode perceber de imediato é a ausência de letras em suas músicas. Isso não significa que as mesmas não possuem vozes. As canções são feitas por diversas onomatopéias, gemidos e recitações feitas por Tom Zé e os demais músicos de sua banda. Usando instrumentos que algumas vezes chegam a ser difíceis de reconhecer, a voz é o instrumento mais utilizado e explorado neste CD. Em todos os momentos, existem sons e grunhidos vindos das gargantas humanas, feitos nos mais diversificados tons, frequências e timbres. Tudo isso torna a música descontraída e muitas vezes engraçada. Em muitos "fade-outs" o som abre espaço para as já conhecidas "blafemações" de Tom Zé.

O destaque fica para as faixas "Atchim", que é cômica por musicar todos os efeitos sonoros de um espirro, onde Tom ainda cita "O carnaval é enquanto os Deuses descansam/ Acordam os Deuses/ Começa o diabo da vida".
Já em "Taka-tá", em mais um "fade" da percussão, pode-se ouvir uma espécie de endo-marketing que Tom faz de si próprio, usando as críticas feitas a ele a seu favor: "Esse Tom Zé é um vagabundo/É um desordeiro/ Não vale nada/ Ele acaba dizendo que o povo é inteligente/ Esse Tom Zé vai perverter a sociedade/ O que será do mundo se a classe média começar a pensar?/ O primeiro mundo não quer isso/ Acabe essa música dele!"... É genial.
A sonoridade criativamente esquizita segue em todas as demais músicas, como em "Cara-Cuá", mais uma recitação de caráter de protesto: "Tudo dominado/ Com a publicidade e tudo mais".
No mais, muitos instrumentos inovadores são utilizados, principalmente os de sopro.

A polêmica, a identificação com os jovens e a rebeldia sob forma de protesto voltam a ser a tônica deste curioso disco, que ainda possui mais uma grande e principal inovação: Pode ser baixado gratuitamente pelo site da gravadora. Tom Zé, ao contrário de muitos artistas que insistem na teimosia de declarar guerra com a divulgação geometricamente progressiva de álbuns em formato digital na rede, resolveu abrir o download gratuito para qualquer internauta. Basta acessar o site de sua gravadora Trama e cadastrar-se.

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2 comentários:

Alexandre Vasconcellos disse...

E viva o Tom Zé, sempre no tom certo e à frente do seu tempo e do tempo dos outros!

Desde que ouvi falar desse novo som dele, fiquei com vontade de ouvi-lo! Baixarei agora!

Aliás, esse é o caminho da música. È inexorável! Há de se achar uma nova saída para o artista, para o bem do próprio e da cultura em geral!

Gabriel Mattos disse...

Genialll...
Mais um da nossa música que precisou fazer sucesso na Europa para ser reconhecido aqui...
Brincadeiraaaa....!!!
abss...