quarta-feira, 6 de agosto de 2008

São Paulo – Roteiro cultural (Parte I)

Por Alexandre Vasconcellos - Enviado especial

São Paulo, a segunda cidade mais populosa do mundo, é, de fato, uma metrópole global. Lá, é possível experimentar grandes porções das principais manifestações culturais do planeta, representadas em restaurantes, teatros, museus, cinemas, centros culturais e, especialmente, pessoas. Mas um dos grandes destaques do roteiro cultural da cidade é algo bem brasileiro, porém, com um tratamento digno dos países mais desenvolvidos.

O Museu da Língua Portuguesa, instalado na tradicional Estação da Luz, na região do antigo centro da cidade, é uma verdadeira ode a nossa língua materna, suas raízes, histórias, manifestações e evoluções. Com um forte apoio do governo do estado e da Fundação Roberto Marinho, o museu, inaugurado em 2006, possui três andares abertos ao público, cada qual com sua função.

No primeiro piso acontecem exposições temáticas, sempre com um tratamento diferenciado sobre um tema importante de nossa língua. Atualmente, a exposição “Mas Este Capítulo Não é Sério”, sobre Machado de Assis, ocupa o espaço, concatenando de forma interessante fragmentos de textos do autor, juntamente com fotos, pinturas, documentos, vídeos e sons que ilustram todas as cercanias do universo de um dos principais ícones da literatura brasileira.

A mostra tem coordenação geral de Ana Helena Curti, arquitetura de Pedro Mendes da Rocha, curadoria de Cacá Machado e Vadim Nikitin e consultoria de José Miguel Wisnik. O título remete a um capítulo de uma de suas principais obras, “Memórias Póstumas de Brás Cubas”. “Com essa exposição, queremos, além de homenagear Machado de Assis, desmistificá-lo sem tirar seu inegável mérito, aproximá-lo do leitor”, diz Antonio Carlos Sartini, superintendente do museu.

No segundo andar, encontra-se uma exposição permanente sobre a Língua Portuguesa em si, dividida em três seções. Em um telão de 1800 metros de largura, toda a extensão da estação, são exibidos vários vídeos sobre a formação e as principais manifestações culturais do nosso idioma, ali tratado como “Português Brasileiro”. No centro, vários totens com palavras, artefatos e computadores representam as principais culturas que incidiram sob o Português Brasileiro. No outro lado, uma linha do tempo traz, desde 700 A.C. até os dias de hoje, os acontecimentos que vieram a moldar a língua portuguesa e a cultura nacional.

No terceiro andar, a cereja do bolo. Em um ambiente multimídia, um espetáculo de imagens, luzes, cores e sons coloca o espectador no centro de um amplo leque de manifestações da cultura brasileira, em um “planetário da Língua”. Da literatura clássica ao cordel, do chorinho ao hip-hop, do teatro à televisão popular. Tendo na palavra sua estrela, como veículo de formação, ação, degustação e modificação das expressões de um povo e suas ramificações. Com roteiro de Antônio Risério e direção de Tadeu Jungle, é narrado por Fernanda Montenegro e conta com a participação de expoentes como Zé Celso Martinez, Maria Bethânia, Dorival Caymmi, Chico Buarque, Haroldo de Campos, Tom Zé entre muitos outros.

É um passeio imperdível. Não deve em nada aos principais museus do mundo. Tecnologia, refinamento artístico, profundidade cultural e, principalmente, uma linguagem acessível tanto a crianças quanto a adultos, de todas as classes. Mal dá para creditar que a entrada (inteira) custe somente R$ 4,00. Quem entra com certeza se diverte bastante e sai com uma visão diferente de si e do próprio país que o cerca. Além, é claro, de experimentar um programa cultural do mais alto nível, daqueles que você sai com um profundo orgulho de ser brasileiro – e falar português, é claro.


“Quem não vê bem uma palavra, não pode ver bem uma alma”
Fernando Pessoa.

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